Ryan Holiday, o homem que manipula a mídia dos EUA
Seu livro “Acredite, Estou Mentindo – Confissões De Um
Manipulador” acaba de chegar ao Brasil. Para ele, o único jeito da mídia
parar de ser manipulada é que as pessoas se importem menos com a
velocidade das notícias, por
João Mello
Uma versão antiga desse artigo continha citações de Ryan
Holiday. Sr. Holiday, que escreveu um livro sobre manipulação da mídia,
posteriormente admitiu que mentiu para o repórter e vários outros
jornalistas. Ele diz que não possui uma vitrola”.
É assim, com esse pedido de desculpas embaraçoso, que o site do New York Times sucumbiu a Ryan Holiday. A reportagem era sobre discos de vinil e Ryan aparecia como um colecionador. A farsa faz parte de seu experimento empírico para provar a fragilidade e incompetência dos veículos de informação e mostra bem como ele operava – podia ser um blog pequeno, podia ser o jornal mais tradicional dos EUA, o lance era mostrar como os repórteres, quase sempre por preguiça ou pressa, se deixavam levar sempre pela mesma equação: notícia que vai gerar mais cliques no período de tempo mais breve possível. Assim como fez com o NYT, ele também trollou o site da rede de televisão CBS ao inventar uma história que foi publicada na matéria “5 casos vergonhosas de escritório que vão te deixar boquiaberto”. Quando o site do MSN estava escrevendo um artigo sobre “a etiqueta do resfriado”, eles não tinham tempo hábil para checar se a história contada por aquele tal de Ryan Holiday (ele nunca se importou em dizer o nome verdadeiro) sobre um colega de trabalho do Burger King ter espirrado em cima dele durante o expediente era verdade - e lá está o pedido de desculpa até hoje.
É assim, com esse pedido de desculpas embaraçoso, que o site do New York Times sucumbiu a Ryan Holiday. A reportagem era sobre discos de vinil e Ryan aparecia como um colecionador. A farsa faz parte de seu experimento empírico para provar a fragilidade e incompetência dos veículos de informação e mostra bem como ele operava – podia ser um blog pequeno, podia ser o jornal mais tradicional dos EUA, o lance era mostrar como os repórteres, quase sempre por preguiça ou pressa, se deixavam levar sempre pela mesma equação: notícia que vai gerar mais cliques no período de tempo mais breve possível. Assim como fez com o NYT, ele também trollou o site da rede de televisão CBS ao inventar uma história que foi publicada na matéria “5 casos vergonhosas de escritório que vão te deixar boquiaberto”. Quando o site do MSN estava escrevendo um artigo sobre “a etiqueta do resfriado”, eles não tinham tempo hábil para checar se a história contada por aquele tal de Ryan Holiday (ele nunca se importou em dizer o nome verdadeiro) sobre um colega de trabalho do Burger King ter espirrado em cima dele durante o expediente era verdade - e lá está o pedido de desculpa até hoje.
Evidente
que essa pressa/preguiça dos repórteres é apenas um reflexo de um
sistema muito maior, que envolve publicidade, ganância e a busca
desenfreada pelo furo – tudo isso, claro,
também não está isolado e é fruto de uma sociedade hipersônica que
venera a velocidade antes, muito antes da qualidade. E é esse panorama
maior que interessa a Ryan. Seu livro “Acredite, Estou Mentindo –
Confissões De Um Manipulador” já está à venda no Brasil e a GALILEU
conversou com ele para discutir um tema manjado (não é novidade pra
ninguém que é preciso ter um pé atrás com tudo que se lê por aí,
inclusive isso aqui) de um ponto de vista bem pouco manjado (pouca gente
tem acesso a esses bastidores).
Ryan tem 25 anos, estudou Ciência Política na faculdade e hoje ganha muito dinheiro como marqueteiro. Na entrevista feita por email, ele mostra o que o faz ser um mestre da manipulação: toda pergunta que pedia um exemplo prático de mentiras que ele plantou na grande mídia foi deixada em branco. Nada como uma platéia curiosa para atrair mais público - ou vender mais livros. [LEIA A ENTREVISTA COMPLETA]
Ryan tem 25 anos, estudou Ciência Política na faculdade e hoje ganha muito dinheiro como marqueteiro. Na entrevista feita por email, ele mostra o que o faz ser um mestre da manipulação: toda pergunta que pedia um exemplo prático de mentiras que ele plantou na grande mídia foi deixada em branco. Nada como uma platéia curiosa para atrair mais público - ou vender mais livros. [LEIA A ENTREVISTA COMPLETA]
Quando você percebeu que a mídia era manipulada? Teve alguma situação que despertou essa consciência em você?
Ryan Holiday:
Foi um processo gradual. Todos nós temos certas ilusões sobre como a
mídia trabalha e sob quais princípios opera. Pouco a pouco eu fui sendo
exposto às engrenagens, como publicitário, leitor, escritor e comprador
de anúncios e também como alguém que tem sido objeto de interesse da
cobertura da imprensa, comecei a identificar padrões e entender esses
fatores implícitos. Veja, como marqueteiro, o que eu faço é explorar
esses fatores. Mas resolvi escrever esse livro quando percebi que meus
benefícios pessoais eram muito pequenos perto do perigo desses sistema.
É verdade que você "não levanta da cama por menos de 10 mil dólares"?. Por que você acha que te pagam tanto?
Ryan Holiday: Porque eu dou resultado.
Você ainda é um manipulador de mídia? Que tipos de trabalho você faz para Tucker Max (autor de bestsellers) e Dov Charney (fundador da American Apparel, gigante do comércio de roupas dos EUA)?
Ryan Holiday: Porque eu dou resultado.
Você ainda é um manipulador de mídia? Que tipos de trabalho você faz para Tucker Max (autor de bestsellers) e Dov Charney (fundador da American Apparel, gigante do comércio de roupas dos EUA)?
Ryan Holiday:
Eu contribuo para o sucesso dos produtos deles. Meus clientes escrevem
livros que estão entre os mais vendidos ou ganham centenas de milhões de
dólares mesmo com orçamentos publicitários minúsculos. Meu trabalho é
parte disso.
O que exatamente um manipulador de mídia faz?
O que exatamente um manipulador de mídia faz?
Ryan Holiday:
Meu ponto é que todo mundo é um manipulador de mídia, incluindo muita
gente da própria mídia. O sistema cria alguns incentivos que são
irresistíveis às pessoas. Como marqueteiro eu plantei notícias falsas,
controlei manchetes, espalhei mensagens que eu mesmo escolhi entre os
veículos de mais prestígio no mundo. Isso é manipulação de mídia – e eu
não estou sozinho nessa.
Quais são suas fontes de informação?
Quais são suas fontes de informação?
Ryan Holiday: Eu gosto de livros. Eles entregam a informação de um jeito mais confiável, mais atemporal. Livros são menos manipuláveis.
Existem blogs ou corporações de mídia que mentem mais que outros?
Ryan Holiday:
Quanto mais acessos um site tem, mais dependente da manipulação ele é.
Isso é um fato. Gawker, Huffington Post, Business Insider, Bleacer
Report são exemplos disso.
E qual a saída para essa espiral de manipulações?
Ryan Holiday:
Acho que a solução é reavaliar nossas certezas. Por que será que nós
achamos que conseguiremos informação de qualidade DE GRAÇA? Por que
achamos que notícias em tempo real são importantes? Por que somo tão
obcecados por quem conseguiu isso primeiro? Por que precisamos tuítar
coisas no momento em que elas acontecem? Todo mundo não estaria melhor
se respirássemos fundo, acalmássemos um pouco e fizéssemos as coisas
direito pela primeira vez? Eu acho que sim.
This entry was posted
on 8 de jul. de 2013
at 08:00
and is filed under
Manipulação,
Mídia,
Sociologia
. You can follow any responses to this entry through the
comments feed
.